O Samba de Gafieira e a derivação dos seus vários estilos


O Samba, um dos favoritos nacionais, é algo que nenhum brasileiro pode negar. Esse gênero musical nasceu na zona portuária do Rio de Janeiro, onde Tia Ciata se destacou e amadureceu, moldando-o na casa das "tias" baianas. Ele se espalhou por todo o Brasil, com pandeiros, cavaquinhos e tantãs sendo ouvidos nos quatro cantos do país, tornando-se instrumentos característicos de nossa música.

O fato de os seres humanos nascerem com uma propensão para dançar, acompanhando-nos em todos os lugares que frequentamos, seja celebrando uma colheita, oferecendo sacrifícios aos deuses ou velando os mortos, mostra que o samba naturalmente se incorporou à nossa cultura, tornando-se um dos nossos favoritos em nosso território.

Embora o samba nem sempre seja dançado em pares, onde a condução e a improvisação do movimento são características da dança de salão, também existe uma versão desse estilo chamada Samba de Gafieira. O nome faz referência ao local onde, no século XX, era comum praticar essa dança.

Neste artigo, tentaremos listar as características e formas que nossas danças assumem atualmente, com base em literatura regional e observações do cotidiano nas aulas e eventos de Samba de Gafieira no Brasil.

Com o tempo, o Samba de Gafieira se tornou cada vez mais popular como parte do currículo de dança nas academias. Devido à necessidade de estruturar o conteúdo para tornar o ensino e a aprendizagem mais lógicos e fáceis, diferentes professores desenvolvem seus próprios "estilos" com base em suas características individuais de dança Samba de Gafieira.

É importante lembrar que, inicialmente, a criação e o desenvolvimento desses estilos não foram intencionais. Os dançarinos abraçaram e buscaram um estilo específico de Samba de Gafieira, intensificando-o e popularizando-o. Assim, ele foi nomeado e os profissionais se tornaram referências para sua prática e ensino.

A existência de diferentes estilos de dança acompanhados pelo samba pas de deux não é novidade. Marco Antônio Perna menciona em seu livro "Samba de Gafieira: A História da Dança de Salão Brasileira" que na década de 1940 havia três estilos de dança: samba liso, samba batucada e samba cantado.

Esses estilos se diferenciam nos aspectos relacionados aos passos no solo e ao caráter em cada compasso musical.

Vamos abordar as diferenças entre os estilos de dança do Samba de Gafieira de hoje, considerando os seguintes aspectos:

  • Repertório: Refere-se às figuras pré-determinadas na dança de salão, em que nomes, trajetos e tempos de execução são estabelecidos para caracterizar os movimentos da dança.
  • Personalidade: Envolve uma coleção de características que definem um estilo de dança, levando em consideração as diferentes interpretações motivadas por estímulos musicais variados, expressões pessoais, adornos relacionados ao gênero, arranjos corporais e posturas durante a dança.
  • Qualidade do movimento: Examina os elementos do movimento, utilizando a classificação de Laban, que classifica o movimento de acordo com seu fluxo, tempo, peso e espaço.
 
Atualmente, existem três estilos diferentes de Samba de Gafieira dançado nos salões brasileiros: Liso ou Clássico, Tradicional e Funkeado. Em termos de repertório, não há impedimento para realizar um personagem ou outro mais característico de um estilo em outro. Outra coisa é a questão da música, ao ouvir um determinado samba, não precisa necessariamente ser de um determinado estilo, mas em ambos os casos certas músicas e personagens são mais adequados para aquele determinado estilo de samba.

Samba de Gafieira suave ou clássico

A própria denominação nos dá uma ideia de como o corpo do casal se comporta nesse gênero de dança. A postura é mais aristocrática, buscando a elegância. Os pares dançam juntos, mantendo uma posição mais vertical, tendendo a ficar em uma postura ereta. A ginga ainda está presente, porém de forma mais discreta, fazendo uma alusão ao estereótipo do malandro, porém com um toque de maior elegância.

Nesse estilo de dança, são amplamente utilizadas figuras antigas e clássicas. Puladinhos, picadinhos e tops são comuns no repertório desses dançarinos. É importante destacar que as características mencionadas anteriormente são preservadas: tops contínuos, suaves e longos são marcas de alguns dos grandes dançarinos desse estilo. O Chorinho, um subgênero do samba, combina muito bem com a dança do Samba de Gafieira, pois suas melodias finas e os instrumentos mais clássicos se harmonizam de forma muito especial com a dança.

Waldeci de Souza, natural do Amapá, mas radicado no Rio de Janeiro há mais de 30 anos, é indiscutivelmente um representante profissional do estilo clássico de dança do Samba de Gafieira e possui uma grande reputação na dança de salão nacional. Sua habilidade foi reconhecida em 1984, quando recebeu o título de "Golden Gentleman" em um dos clubes mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Club De Matticos.


Samba de Gafieira Tradicional

Ao observarmos o estilo tradicional do Samba de Gafieira, percebemos que a ginga ganha mais destaque e importância. A flexão do joelho do bailarino é mais proeminente, evidenciando o equilíbrio do corpo durante a dança. A postura parece mais relaxada e, em determinados momentos, o bailarino utiliza apenas os braços para conectar-se com a dama, envolvendo-a pelo lado direito enquanto ela o abraça pelo lado esquerdo. A verticalidade corporal é perdida em relação ao estilo clássico, e os quadris da bailarina ganham uma inclinação (lordose) para trás, resultando em uma distância entre os pares de dança, que estão conectados, mas não tão próximos.

No repertório desse estilo, destacam-se os passos de samba tradicionais, como as "escovinhas" e os "pica-paus", que têm chamado a atenção de professores e bailarinos. Como resultado, surgiram inúmeras variações de passos, com sucesso nas pistas de dança. Decorações e figuras de outros gêneros de dança também são incorporadas, como os enfeites de senhora do bolero e os passos com ganchos do tango, que contribuem para a riqueza do estilo do Samba de Gafieira.

Dentre os subgêneros do samba que se encaixam no estilo tradicional, temos o "fundo de quintal" e o "samba de gafieira". Este último é caracterizado por um conjunto orquestral, pois é o tipo de samba executado por uma banda de dança. Sua formação é baseada nas big bands americanas, e esses instrumentos são essenciais, pois representam a alma do swing, uma música regional tradicional.

Carlos Bolacha, professor e bailarino carioca, é uma das principais figuras do samba tradicional. Ele desenvolveu um estilo de dança dinâmico e versátil, sendo proprietário de um dos principais espaços dedicados ao samba tradicional, a Cachanga do Malandro, no Rio de Janeiro, onde a essência do samba é exaltada.

Samba Funkeado

Para concluir nossa análise, vamos falar sobre o Samba Funkeado. Este estilo representa as tendências mais recentes na dança do Samba de Gafieira. Sua característica principal é a qualidade dos movimentos. Utilizando o conceito de Laban, podemos dizer que o fluxo da dança é frequentemente interrompido, com movimentos acelerados e freados rapidamente. Isso cria uma dinâmica de tempo e fluxo muito diferente dos estilos anteriores.

Em termos de espaço, o Funkeado também apresenta particularidades. Os casais costumam alterar a distância entre si, aproximando-se e afastando-se do parceiro. Os níveis também são explorados de forma significativa. As transições entre alturas alta, média e baixa podem ser observadas várias vezes na mesma sequência.

As características desse estilo remetem à cultura do hip-hop e do R&B (rhythm and blues). Nos passos básicos do Samba Funkeado, é sugerido que os bailarinos balancem os quadris para cima e para baixo, imitando os movimentos dos ombros, o que confere ao estilo uma aparência muito distinta. Frequentemente, ouvimos as pessoas se referindo a esse estilo como "quebrado" devido a seu caráter único.

O Sambalanço é um subgênero do samba que se encaixa perfeitamente no Funkeado. Músicos como Bebeto e Rodriguinho exemplificam bem essa interpretação musical. Não é incomum que professores utilizem músicas de R&B em vez de samba durante aulas ou apresentações, pois a estrutura dessas músicas auxilia na interpretação do estilo. Aliás, foi Jimmy de Oliveira, professor e dançarino carioca, quem desenvolveu esse formato. O ano de 1998 é considerado o marco do início dessa abordagem de ensino, e atualmente há mais de uma centena de figuras classificadas nesse estilo.

"Sentada", "Fechamento" e "Romário de costas" são figuras típicas mencionadas pelo próprio criador, Jimmy de Oliveira. Podemos dizer que esse é o estilo mais recente que se mesclou à dança do Samba de Gafieira. Vale ressaltar que o número de adeptos tem crescido a cada dia, e para aqueles interessados nessa forma de dança, é comum encontrar aulas específicas em academias de dança ou eventos. A ampla aceitação nacional desse estilo é explicada pela plasticidade dos movimentos e pela musicalidade do Funkeado, encantando amantes da dança em todo o mundo.


Acredito que é essencial realizar pesquisas mais aprofundadas para classificar de forma mais completa e oficial uma das nossas expressões populares mais significativas: a dança de salão brasileira. Um registro literário abrangente será de grande importância para a história dessa forma de dança.

Como parte da cultura popular, a dança de salão está constantemente se reinventando. Os "sotaques" mencionados aqui representam um momento específico em que nossa criatividade e influência estão moldando estilos existentes, criando novos e até mesmo eliminando alguns.

A única certeza que temos é que o Samba de Gafieira continuará dançando na vida, pois, afinal, "quem não gosta de Samba não é um cara do bem". Sempre haverá pessoas comprometidas em perpetuar essa tradição brasileira.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.