ESPANHA | A Dança Flamenca - Uma Crônica bem Divertida

Aulas de dança flamenca. Foto: Reprodução

Comprei um vestido vermelho com decote redondo e alcinha fina. A saia termina em três babados, sendo que o primeiro deles apresenta uma pequena subida. Fui fazer dança Flamenca, tive câimbra… Descobri que todas as dançarinas usam vestidos mais cavados que o meu com uma faixa na cintura e exibem uma flor no cabelo e pulseiras vistosas, tive câimbra… Achei que não fosse conseguir dar um passo no ritmo da música, tive câimbra… Entre uma passada e outra, estirei o músculo da perna num passo meio desengonçado e descobri que não sabia dançar nada. Tive câimbra! Fiquei com vergonha. Depois de um tempo, aprendi a sapatear, só para te ver nas aulas.

As professoras Adelita Parra e Ana Paula Campoy ministram aulas de dança flamenca no Centro de Arte Flamenca, em Campinas.

Mas antes disto, no segundo dia, eu e o meu vestido nos arrastamos até o salão. Muitas pessoas olharam para nós de cima a baixo, mas deixamos para lá. O salão estava cheio, a dançarina geneticamente mais evoluída dividiu comigo o lado esquerdo do salão. Eu tinha acabado de fazer um leve balanço com meu leque a tira colo, repetindo o movimento de abano, bruscamente, pernas trêmulas de uma iniciante, e pressentindo que seria dia de mais câimbras. Olhei para o professor, o professor olhou para mim. Eu branquela, vestida de vermelho bordô, leque na mão, flor no cabelo. O professor, sexy e charmoso, um pouco mais alto quando se olha de baixo para cima, moreno, expressão apaixonante, disse: “Vou fingir que não vi essa chegada”. Senti o sangue gelar até a minha cabeça. Olhei para o professor, ele estava olhando para mim, para minha performance desengonçada, e tive vontade de me esconder, fugir, sumir dali, mas disse apenas: “Você é um grande dançarino”. E continuei dançando.

A prática não é nada fácil, pois é preciso transmitir o sentimento e a história da dança. E a maior alegria de dançar flamenco está nas expressões e emoções pessoais de quem baila. O flamenco é a música e a dança cujas origens remontam às culturas cigana e mourisca, com influência árabe e judaica, associada principalmente à região da Andaluzia, na Espanha, assim como a Múrcia e Estremadura, e tornou-se um dos símbolos da cultura espanhola. Por um segundo desejei ter nascido na Espanha.

As castanholas da dança flamenca. Foto: Reprodução

Nos primeiros momentos da coreografia, quando eu e o professor começamos a sentir a música, os movimentos começam a surgir. Uma batida constante de palmas ruidosamente dominaram o meu ser. Ritmados num pisoteado feroz, os movimentos dos meus braços tornaram-se graciosos e firmes. Minhas castanholas tocaram a palma da minha mão. Foi então que tive a sensação de estarmos construindo uma emoção, numa dança apaixonante!

Ilustração de uma dançarina de flamenco.

A arte da dança flamenca é muitas vezes difícil de dominar nos primeiros momentos. Além de aprender os passos e movimentos trincados, eu também precisei aprender a me comunicar verbalmente com o meu parceiro, meu amor! Ele me ensinou como mostrar corretamente minhas emoções e sentimentos mais íntimos. Nos palcos da vida para ter uma bela interpretação, não adianta aprender palavras de amor se for em vão. É preciso saber como dizer. Não tive câimbras. Me apaixonei pelo professor.

Fonte: Ativar Sentidos | Laila Guedes

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