Priscilla Yokoi: novos rumos para a Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo


Conhecida desde muito jovem por seu talento como bailarina e bem sucedida também como produtora artística, Priscilla Yokoi é, literalmente, a nova cara a frente da Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo. Isso porque, Priscilla, que assumiu o cargo em agosto de 2017, aos 34 anos, é a diretora mais jovem que a instituição já teve desde sua criação, em 1940, na época com o nome de Escola Municipal de Bailado.

Registrar seu nome na história por conta da juventude não é novidade para a bailarina que, aos 15 anos, recebeu um prêmio especial do júri como mais jovem finalista do International Ballet Competition, na Bulgária. Aos 16, ela foi eleita Melhor Bailarina Clássica do Festival de Dança de Joinville e, daí em diante, seguiu com suas conquistas profissionais no Brasil e exterior, ganhando o reconhecimento e a admiração dos bailarinos e do público.

Mas se a pouca idade rendeu prêmios e elogios nos palcos, no novo cargo de diretora sua jovialidade não foi bem recebida inicialmente, tampouco sua postura de trabalho, que ela descreve em sua voz suave, mas embasada pela experiência de uma profissional com reconhecido trabalho na dança, como “disciplina militar de bailarina clássica”.

Em entrevista ao portal Dança em Pauta, ela contou sobre os desafios do novo cargo e os planos para sua gestão.

O DESAFIO

A convite do Secretário da Cultura de São Paulo, André Sturm, Priscilla assumiu o cargo com o desafio de reestruturar a instituição de ensino, fazendo dela uma escola de dança profissionalizante que volte a ser uma referência na formação de talentos. Aliás, ela adianta que já estão trabalhando para que, em 2019, os alunos formados pela escola passem a receber diploma de curso técnico.

Em busca destes objetivos, uma das primeiras ações da nova diretora foi investir mais no ensino do balé clássico, que estava defasado em comparação a dança contemporânea. Mas ela não parou por aí, e, visando formar artistas completos, reformulou a grade curricular do curso, que tem duração de nove anos. “Para ser um artista não é só dançar balé clássico, nem só contemporâneo. Ele precisa saber sobre cultura, danças brasileiras, história da dança, ler uma partitura, cantar. Hoje, o maior mercado que a gente tem no Brasil é o de musicais”, ressalta a diretora que incluiu no curso, entre outros, aulas de sapateado, canto e teatro.

Ela destaca que o conhecimento de vários gêneros de dança é fundamental para a formação do bailarino e que, ela mesma, teve contato com diferentes danças em sua trajetória. “Muitas pessoas olham pra mim e só me associam ao clássico, mas quando criança, por exemplo, eu fiz aula de lambada e isso foi ótimo pra minha dança!”, recorda.

Mas além das mudanças curriculares, sua exigência de maior disciplina dos alunos começou a gerar reclamações dos pais. Ela conta ter recebido diversos emails inflamados e que chegou a pensar em desistir, mas recebeu o apoio para seguir em frente de professores de sua equipe. “Eu explicava aos pais que depois que seus filhos mudassem o comportamento em casa, eles iriam agradecer a escola. A gente passa muito tempo junto com os alunos, então acaba ensinando mais do que a dança. É uma educação que eles levam para a vida”, ressalta ela.

As argumentações não estavam surtindo efeito e só pioraram quando ela anunciou a montagem do balé O Quebra Nozes para o encerramento do ano. A grande maioria dos alunos só dançava contemporâneo e detestava balé clássico. Para completar, os ensaios começariam no final de setembro, após as bancas de exame da escola, e a apresentação foi marcada para a primeira quinzena de novembro, deixando um curto espaço de tempo para a preparação. “Me achavam uma louca por montar o espetáculo”, recorda.

No dia 9 novembro de 2017, os 1054 alunos da Escola subiram ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para uma versão do Quebra Nozes que incluiu, além do balé, dança contemporânea e danças brasileiras. O resultado foram pais, alunos e professores indo às lágrimas com o sucesso do espetáculo. “Hoje, falo com alegria que a escola é uma antes de O Quebra Nozes e outra depois. Após o espetáculo passei a ter 100% de aprovação dos pais, porque eles viram o resultado da disciplina no palco. Alguns me pediram perdão. Eles entenderam que pra algo funcionar é preciso ter regras e para um bailarino ser bom, é preciso disciplina”, comenta.

Priscilla Yokoi, professores e alunos da Escola de Dança de São Paulo, no palco do Theatro Municipal, no encerramento do espetáculo Qubra Nozes. | Foto: Talita Cardeal/divulgação
Priscilla Yokoi, professores e alunos da Escola, no palco do Theatro Municipal, no encerramento de O Quebra Nozes.

O FUTURO

Vencidas as barreiras iniciais, 2018 chegou trazendo outra grande conquista comemorada pela diretora, a abertura da primeira turma da escola só para meninos, algo que já entra para a história da instituição. Serão quinze alunos, de 8 a 12 anos, que receberão aulas específicas para os corpos masculinos. “A escola está completando 78 anos de atividade e é a primeira vez que terá uma turma só de meninos, uma coisa que muitos pais nos pediam”, explica.

Alunos da Escola em cena de O Quebra Nozes. | Foto: Talita Cardeal
Ainda pensando na formação das futuras gerações, Priscilla reativou o Balé Jovem da escola, uma cia de dança experimental para os estudantes. Desta forma, além das aulas para os alunos de 7 a 18 anos, os bailarinos de 19 a 25 anos também poderão usufruir desta preparação para o mercado de trabalho. “O que estamos fazendo agora é moldar estes corpos que a gente tem pra que eles sejam mais ecléticos”, diz.

Outra novidade para este ano, é a mudança dos Cursos Livres – aulas gratuitas, para crianças e adultos, de balé, danças brasileiras e contemporânea com os professores da instituição – da Praça das Artes, sede da Escola, no centro da cidade, para o Centro Cultural Santo Amaro. A mudança visa dar mais espaço aos alunos do curso profissionalizante e, ao mesmo tempo, aproximar a dança dos moradores dos bairros da capital. Ela explica que a ideia é abrir uma nova unidade por ano, em diferentes regiões, até 2021. “Acreditamos que assim os cursos atingirão mais pessoas. No centro, os cursos livres serão direcionados apenas para bailarinos profissionais com DRT, em busca de aprimoramento”, explica.

Apesar de satisfeita com os resultados que vem obtendo, Priscilla comenta que ainda tem um longo caminho pela frente até atingir suas metas para a Escola, mas destaca o apoio fundamental da Fundação Theatro Municipal por meio de sua diretora geral Renata Araújo e do diretor de formação Sergio Chnee. “Eles demonstram um olhar carinhoso com a Escola e de muito respeito com tudo que tenho proposto. Tem sido um desafio muito bom. Eu já era gestora, então administrar a escola não é difícil pra mim. Minha preocupação maior era o que as pessoas iriam pensar, por eu ser tão nova, mas acho que o trabalho e o tempo é que irão dizer”, finaliza.

Fonte: Dança em Pauta


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