Considerações Sobre o Ensino do Ballet Clássico - Parte 1
Em uma dessas esquinas da internet encontrei um artigo bastante interessante, que foi indicado pelo ArteSofia - Escola de Dança (Facebook). É um artigo escrito pela Eliana Caminada e que fala de uma maneira suscinta e inteligente sobre o ensinamento do Ballet Clássico.
É um material extenso mais de grande valia para quem pratica esta modalidade ou quem quer se aprofundar mais nos estudos do Ballet.
Por esse motivo irei colocar aqui uma Série de Postagens dividida em 7 Capítulos.
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Tratados de Dança Ballet - Sua Origem
Fonte: www.elianacaminada.net
No século XV o artista foi saindo da sombra artesanal para reivindicar seu espaço ao lado dos filósofos, literatos e poetas.
A primeira figura de maestro de dança que chegou ao nosso conhecimento foi a do rabino Hacén Ben Salomon, que em 1313 era responsável pelo ensino aos cristãos de uma dança de conjunto em volta dos altares. A ele seguiu-se uma verdadeira tradição de maestros judeus, entre eles, Guglielmo Ebreo e Ambrozio, ambos da região de Pesaro, e Giuseppe, aluno de Guglielmo. Bem mais tarde, Isaac d"Orleans foi elogiado pelo competente ensino do “rigodon” na França.
Coube aos maestros submeter a dança a regras disciplinares compatíveis com a seriedade requerida pelos senhores burgueses, donos do dinheiro, recém aristocratizados, e que por isso mesmo desejavam aumentar a distância que os separava de uma origem que não era nobre.
Com as novas concepções surgiram os tratados de dança. Domenico de Piacenza escreveu, entre 1435 e 1436, o primeiro de que se tem notícia: “De arti saltandi et choreas ducendi” (A arte de dançar e dirigir coros). Nele o autor introduzia a primeira classificação sistemática dos movimentos do corpo, doze ao todo, sendo considerados nove naturais, evidenciando o que o corpo normalmente já executa, e três acidentais, que se referiam ao que era complementar e ornamental.
Aos primeiros denominou: scempio - simples; doppio - duplo; ripresa - retomada; continenza - parada; reverenza - reverência; mezzavolta - meia volta; voltatonda - volta inteira; movimento - elevação; salto - salto. Aos segundos chamou: scorza - passo lateral rápido; frappamento - batida; cambiamento - pirueta.
O frappamento constituiu-se no primeiro elemento da Antigüidade clássica que passou pelos códigos estabelecidos pelos maîtres-de-ballet quando foram fixadas as regras do ballet clássico. O frappamento chegou às nossas aulas atuais com o nome de “frappé”.
Em 1455 Antonio Cornazano escreveu o “Libro sull"arte del dansare” (Livro sobre a arte de dançar). Ali Cornazano fazia uma distinção entre dança popular e dança aristocrática ou arte, explicando que a última era construída a partir de variantes em torno de uma fábula ou enredo e denominando-a ballet. Também Ebreo deixou escrito “De pratica seu arte tripudii” (Prática ou arte da dança), dedicado a seu patrocinador Galeazzo Maria Sforza.
Surgiram novos tratados de dança. Em 1530 Cesare Negri escreveu “Grazie d"Amore”, posteriormente intitulado “Nuova inventioni di balli”; nele o autor aconselhava que pernas e joelhos fossem mantidos esticados e “i piedi in fuora” ou seja, pés en dehors, elementos que o ballet adotaria como base sobre a qual construiria a sua técnica. Com Negri teve-se notícia da primeira escola de ensino de dança para “nobres”.
Fica bastante evidente que o mero passatempo começava a provocar admiração e a exigir um aprendizado sistemático.
Em 1536 apareceu o tratado de Antonius de Arena “Ad compangnones qui sunt de persona friantes, basse-danse et branles praticantes”; em 1577 Fabritio Caroso da Sermoneta, ele próprio um dançarino profissional, lançou “Il Ballarino”.
Em 1581 estreou o “Ballet Comique de la Reine – Ballet Cômico da Rainha”, que passou a ser considerado como o primeiro ballet da história. Sete anos depois, em 1588, o cônego Thoinot Arbeau sob o pseudônimo de Jehan Tabourot escreveu o maior tratado de que temos conhecimento até então:
- “Orchesographie ou Traité en forme de dialogue, par lequel toutes personnes peuvent facilement apprendre pratiquer, l"honnete exercises des danses – Tratado em forma de diálogo para todas as pessoas que queiram aprender facilmente os honestos exercício das danças.”
O primeiro livro sobre ballet, do Padre Menestrier, “Ballets anciens et modernes”, foi publicado em 1682. Em 1699 saía o tratado de Raoul Auger Le Feuillet “Choreographie ou L"Art décrire la danse par caractères, figures et signes demonstratifs – A Arte de descrever a dança por caracteres, figuras e signos demonstrativos”; nele o autor registrava as primeiras tentativas de uma notação de dança, indicando a posição inicial dos pés, seu desenho sobre o solo e signos para distinguir saltos e passos; indicava também a direção e a sucessão das figuras de dança.
Embora os tratados dos dois séculos anteriores se destinassem à dança social e a necessidade de usar o salão todo e o de Feuillet tratar da dança cênica, cujos problemas já incorporavam o espaço limitado por cenários e a imposição de colocar-se de frente para o espectador, sua abordagem só disse respeito aos pés; tronco, braços e cabeça permaneceram abandonados.
De fato, dentro do teatro a perspectiva estética se modificara; visto en face e de baixo para cima “o que antes era uma linha horizontal converteu-se em linha vertical; para acentuar esta linha dinâmica seguida para a vista, os braços, as pernas e por fim todo o corpo começaram a se elevar; saltos, piruetas e entrechats, já conhecidos, foram apresentados como uma técnica nova, que tendia a dar leveza ascensional ao bailarino e ao conjunto todo”, diz Adolfo Salazar.
Ainda usamos palavras de Salazar para definir a grandeza da técnica de dança acadêmica:
“A parte verdadeiramente notável em que se baseia a gramática de dança acadêmica consiste em que está montada com um mecanismo rigoroso que, de princípios rudimentares, as cinco posições dos pés, vai se complicando ordenadamente até ao ponto em que, quando as figuras ou passos mais complicados intervêm, é possível decompô-los, peça por peça, movimento por movimento, até voltar a encontrar por um caminho inverso todos os passos que vagarosamente foram integrando aqueles. Nada se improvisa na dança "clássica"; tudo está matematicamente regulado, e como cada movimento ou atitude se baseia em cada um dos valores musicais do compasso, o bailarino dá idéia, ao dançar, de solfejar a dança e, de fato, se o vemos numa aula ou ensaio, podemos ouvi-lo cantar grupos de números que correspondem à relação entre os valores do compasso e a sua tradução plástica em pés, mãos, pernas e corpo”.
Acrescentamos afirmando que a técnica de dança acadêmica trabalha com a progressão vertical e horizontal para desenvolver sua técnica. Para o resto da vida o corpo se submeterá a seqüências lógicas e anatômicas de exercícios. O corpo é preparado para executar a técnica do ballet através dos exercícios realizados com apoio da barra. Esses exercícios serão levados para o centro onde, gradativamente, o elemento principal, a própria dança, é introduzido. A dança se realiza na sua plenitude ao final da aula.
A lógica da construção do ballet pode ser bem exemplificada também pelo paralelismo em que se baseiam seus exercícios, pela adoção do en dehors como fator fundamental de elegância e estabilidade e sobre as cinco posições dos pés, elementos primários, dos quais partem e para os quais retornam todos os exercícios e movimentos. A par disso, a técnica do ballet contempla todo o corpo, da cabeça aos membros inferiores e superiores, incluindo os dedos das mãos. Os exercícios do ballet trabalham a busca da verticalidade, o alongamento, a extensão, a flexão, a impulsão, o controle, a coordenação, etc., tendo o sentido estético e artístico como objetivo final.
Dos tratados dos primeiros maestros de dança até os completos sistemas elaborados por Rudolf Laban, Rudolf e Joan Benesh e Vladimir Stepanov, criadores de métodos de notação gráfica, a dança acadêmica percorreu um longo caminho. Sua complexidade, os princípios que a regem, tornaram-na uma arte de dificílimo registro por signos, sinais e outros recursos. Até nossos dias, coreógrafos (como Maurice Béjart) admitem que, ainda que não desprezem nem ignorem a coreologia, esperam que sua obra seja, preferencialmente, transmitida pelos próprios bailarinos.
Considerações Sobre o Ensino do Ballet Clássico:
- Tratados de Dança Ballet - Sua Origem,
- Origem do Ballet,
- A escola Italiana,
- A escola Francesa,
- A escola Dinamarquesa,
- A escola Russa de Vaganova,
- Os norte americanos na extraordinária tradução de Balanchine.
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