A Dança, a Mulher e o Islã
AS DANÇAS FAMILIARES
Fonte: Anthropos
É através da dança que o corpo da mulher reencontra a liberdade. Isto está presente principalmente nos meios citadinos, onde a função das danças é o divertimento.
Nas festas familiares, no lado das mulheres, parentes e convidadas levantam-se e dança duas a duas ou em pequenos grupos. Cada mulher que dança deixa aflorar a sua sensualidade, chamando a uma participação cúmplice a assistência, estimulada pelo ritmo e pela linguagem da canção.
Um erotismo flagrante exala das partes do corpo através dos movimentos: tremor dos ombros e dos seios, oscilação das ancas mais ou menos acentuada.
Todo este jogo de sedução e de erotismo tem o olhar de uma assistência exclusivamente feminina. Estas raramente dançam em frente de seu pai ou irmão e não é tolerado que outros homens as vejam dançar, para não fantasiarem com o seu corpo.
Assim, uma mulher honrada só pode dançar entre mulheres, geralmente em casa, em festas por elas organizadas, ou de acordo com certos rituais.
As danças das festas familiares são também importantes uma vez que aí as mulheres podem escolher esposas para os seus filhos, para o irmão ou primo.
DANÇA - RITUAL COLECTIVO NOS MEIOS RURAIS
O património rural oferece uma grande variedade de músicas e danças, reflexo da diversidade das populações que as elaboraram.
Na arte musical berbere predomina a poesia cantada onde os temas principais evocam os trabalhos agrícolas, o ciclo da natureza, a vida pastoril, o amor e a guerra. Os cantos são acompanhados por danças.
Em Marrocos, por exemplo, as duas formas principais de música berbere dançada chama-se AHOUACH e AHIDUS. Estas são danças colectivas e rituais que teriam origem nos cultos lunares ou solares.
Na AHOUACH, as dançarinas põem-se em círculo em volta de um grupo de homens sentados junto ao fogo que são os tocadores de bendiris. A voz penetrante dum cantor propõe um tema, grito agudo que vibra como uma entoação, logo repetido por outro cantor. Os bendiris rufam. Homens e mulheres retomam em coro a frase musical formada.
O círculo das mulheres começa a ondular e, ombro a ombro, avançam, recuam, dão o ritmo batendo no chão o compasso. Uma ordem dada pelo condutor, o “rwaiss”, faz aumentar o ritmo da dança, fazendo com que os homens se calem e o círculo das dançarinas se divida em dois arcos que se enfrentam, formando dois coros que respondem mutuamente.
A AHOUACH prolonga-se em princípio até altas horas da noite, à luz de uma fogueira. È dançada em qualquer parte do Alto Atlas, ao longo do Vale de Dadés.
A AHIADOUS é uma dança colectiva. Divertimento social de muitas noites de verão, esta dança é praticada em todas as festas tradicionais, agrárias para os casamentos e circuncisões. A maior parte da AHIADOUS, põe em presença homens e mulheres, não excluindo as composições exclusivamente femininas ou masculinas.
Após um solo introdutório, lançado por um poeta cantor, os homens e mulheres tomam o seu lugar, formando um círculo, ombro contra ombro, dirigidos por um condutor.
O gesto fundamental da dança consiste essencialmente nas vibrações dos ombros. As mulheres levantam e baixam os braços como se tratasse de uma oração. Este movimento alia-se a um ligeiro balançar do corpo para trás e para a frente. Por vezes, os dançarinos agarram mutuamente as mãos e inclinam o corpo para o centro do círculo. Voltando à posição inicial, eles viram os corpos e os ombros tocam-se novamente. Uma onda frenética parece percorrê-los.
A GUEDRA – DANÇA DE POSSESSÃO
A GUEDRA é executada sobretudo no sul marroquino, em Goulimine. As atitudes e os gestos desta dança revelam-se de um simbolismo muito antigo. Por esse motivo, adquiriu o estatuto de um fenómeno cultural único em Marrocos, figurando sistematicamente no programa das manifestações folclóricas.
Para dançar a GUEDRA, homens e mulheres reúnem-se em círculo, cantando e batendo as mãos, todos eles vestidos de azul e negro. Uma mulher põe-se a dançar ao centro, de pé, ajoelhando-se pouco a pouco. Ela está coberta por um ou dois véus que vão deixando ver a face progressivamente. Os braços esticados ou semi-flectidos à altura do busto, movimentam-se alternadamente para a esquerda e para a direita, mas é o trabalho exemplar das mãos e sobretudo dos dedos que caracteriza a GUEDRA. A cabeça balança lateralmente e as inúmeras tranças ornamentadas de pérolas e conchas que compõem o penteado tradicional destas mulheres agitam-se. O ritmo intensifica-se gradualmente, a respiração da dançarina torna-se ofegante.
Esta dança “fascinante” e “hipnótica” tem feito suscitar muitas interrogações e tem dado lugar a múltiplas interpretações. Muitos entendem-na como uma dança erótica, de um clima sexual intenso, sugerido pelo modo como a dançarina se move. Mas esta dança evoca também um hino à vida, simbolizando as etapas do nascimento pela emergência dos véus, da explosão vital da morte, pelo esgotamento da bailarina.
A GUEDRA também pode pertencer às danças de possessão, uma transe muito particular de origem africana negra. Acrescente-se que Goulimine era um antigo centro caravaneiro e que os seus autóctones perpetuaram através desta dança a sua crença de possessão pelos génios, que se manifestam nas transes.
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